22 de ago. de 2013

O Ferreiro



Era uma vez um homem que, após uma juventude cheia de excessos, resolveu entregar sua alma a Deus.
Durante muitos anos trabalhou com afinidade, praticou a caridade, mas, apesar de toda sua dedicação, nada parecia dar certo na sua vida.
Muito pelo contrário: seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais.

Uma bela tarde, um amigo que o visitara, e que se compadecia de sua situação difícil, comentou:


É realmente estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida começou a piorar.


Eu não desejo enfraquecer sua fé, mas apesar de toda a sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.

O ferreiro não respondeu imediatamente.

Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida.

Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar e terminou encontrando a explicação que procurava.

Eis o que disse o ferreiro:
Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas.

Você sabe como isto é feito?
Primeiro eu aqueço a chapa de aço num calor infernal,
até que fique vermelha.

Em seguida, sem qualquer piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico golpes até que a peça adquira a forma desejada.
Logo, ela é mergulhada em um balde de água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura.

Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita: uma vez apenas não é suficiente.
O ferreiro deu uma longa pausa e continuou:

Às vezes, o aço que chega até minhas mãos
não consegue aguentar esse tratamento.

O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada.

Então, eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você viu na entrada de minha ferraria.

Mais uma pausa e o ferreiro concluiu:

Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições.
Tenho aceito as marteladas que a vida me dá,
e às vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço.


Mas a única coisa que peço é:
Meu Deus, não desista, até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser, mas jamais me coloque no monte de ferro-velho das almas.



Agradeço aos meus Orixá por todas as coisas que eles me deram até hoje!

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